A História do “Banho no Zé”

Uma Lição de Empatia na Estrada
rodovia transbrasiliana A História do "Banho no Zé"
Foto: Foto DNIT
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A primeira história de muitas

Sou Emerson Vassoler, filho primogênito de José Vassoler e Isabel Molina. Cresci rodeado pela paixão do meu pai por caminhões, e desde pequeno sonhei em ser “rei do asfalto”. Claro, no fundo, meu sonho sempre foi ser um grande jogador de futebol, mas, bem, a genética não ajudou muito – minhas pernas finas e a preguiça de correr atrás da bola sempre foram mais fortes que minha vontade. Então, acabei seguindo o caminho da estrada.

Aos 15 anos, já estava ao lado do meu pai, manobrando bitrem com a mesma destreza de um motorista experiente. Aos 18, me considerava oficialmente um motorista classe D. A falta de medo, a perseverança e a alegria de viver sempre foram minhas companheiras de estrada. E se tem algo que nunca existiu no meu vocabulário, é a palavra “desistir”.

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Vamos à história que virou uma lenda entre os caminhoneiros. O ano era 1995, e eu e meu amigo Aparecido Souza, o Cidão (que já não está mais entre nós), estávamos em viagem para Ituiutaba, em Minas Gerais. Nosso destino final: Tangará da Serra, no Mato Grosso. Inicialmente, carregávamos bananas a caminho de Ribeirão Preto e Franca. A viagem seguia tranquila até que decidimos buscar telha de barro em Ituiutaba.

O caminho até lá foi incrível. Viagem pelas estradas de Minas Gerais, especialmente pela BR-153, a Transbrasiliana, é um espetáculo à parte. A cada quilômetro, os campos verdes, as montanhas ao longe e o céu limpo proporcionavam uma sensação de liberdade que só quem vive na estrada pode entender. As cidades ao longo do trajeto, como Itumbiara e a própria Ituiutaba, são repletas de histórias, de gente simples e acolhedora. Em Ituiutaba, as plantações de cana-de-açúcar, as serras e os vastos campos dão o tom rural e ao mesmo tempo grandioso da região.

Chegamos à pequena Monte Alegre de Minas para dar uma pausa. A cidade é pacata, rodeada pela natureza e com um clima tranquilo, que transmite uma paz difícil de encontrar nas grandes cidades. Como dois rapazes cheios de energia e curiosidade, decidimos explorar a cidade. Caminhamos pelas ruas, absorvendo a simplicidade e o charme do interior mineiro. Mas o que realmente marcou aquele dia não foi o descanso na estrada, mas o que encontramos durante nosso passeio.

Avistamos um aglomerado de pessoas em uma casa e, como todo bom curioso, o Cidão sugeriu: “Vamos lá, Eme, vai que é uma festa?”. Chegando mais perto, percebemos que a “festa” não passava de um velório. O senhor conhecido como Seu Zé estava deitado sob um estrado improvisado, rodeado por sua família, que chorava a perda. Naquela época, os velórios ocorriam dentro das casas, e o corpo era preparado para o enterro pelos próprios familiares.

A viúva, com os olhos cheios de lágrimas, nos pediu se alguém poderia ajudar a dar o banho no Zé, uma tradição da época. Olhei para os lados e percebi que todos estavam se afastando, dando desculpas para não ajudar. Fiquei ali, sem saber o que fazer, quando vi que só restaram eu e o Cidão. Com seu espírito alto astral e sempre pronto para qualquer situação, ele disse: “Nós vamos, Emersão, você segura e eu faço o resto”.

Confesso que nunca tinha tocado em um morto. A missão parecia simples, mas não sabia o que me aguardava. Segurando o corpo de Seu Zé, que de pequeno não tinha nada, comecei a passar sabão e água com a mangueira. Mas no meio do processo, o inesperado aconteceu. O estrado estava inclinado, e, com o corpo molhado, Seu Zé escorregou e foi parar em outro cômodo. Imagina a cena: o pânico tomou conta de todos. As pessoas correram para fora da casa, acreditando que Seu Zé havia ressuscitado e dado uma de “Jesus Cristo”. Nunca vi tanta gente pulando janelas e trancando portas em pânico.

Depois de muito esforço e risadas nervosas, conseguimos recolocar o corpo no estrado e finalizar o banho. A viúva, apesar da situação desconfortável, nos agradeceu pela ajuda. O Cidão, sempre com seu bom humor, fez piada sobre o acontecido e, no final, eu me senti aliviado por ter feito a boa ação do dia – mesmo que, naquele momento, quisesse desaparecer.

A moral dessa história é simples, mas profunda: a estrada nos ensina mais do que a dirigir, ela nos ensina a viver em comunidade e a ajudar quem precisa. Os caminhoneiros têm uma empatia única. Estamos sempre em movimento, mas nunca deixamos de estender a mão a quem precisa. Cada quilômetro percorrido é uma lição de solidariedade. E, como no caso do banho no Zé, às vezes um simples gesto pode mudar o curso de um dia.

Então, que essa história nos lembre que, por mais difícil que seja a jornada, a ajuda ao próximo sempre será o que mais vale a pena. E se, um dia, você se encontrar em uma situação como a minha, lembre-se: a estrada sempre terá algo a ensinar.

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