A cooperação é, talvez, uma das características mais duradouras da cultura e do espírito de Jaraguá do Sul. Herança dos imigrantes, alemães, italianos, húngaros, poloneses e outros, que aqui chegaram, trazendo consigo o hábito de se unir para construir escolas, igrejas, salões comunitários, hospitais e até redes elétricas. Esse senso de responsabilidade compartilhada permanece vivo nas associações, nas festas tradicionais como a Schützenfest e nas entidades filantrópicas.
Desde os tempos da Colônia Jaraguá, o espírito comunitário foi essencial para transformar um território inóspito em um núcleo próspero. Jourdan, com o apoio de 60 trabalhadores, ergueu engenhos, serrarias, olarias e abriu estradas, lançando as bases do que viria a ser o Estabelecimento Jaraguá. Mesmo após sua saída, a comunidade local manteve viva a chama do progresso coletivo. A colonização promovida pelo Estado, a partir de 1891, trouxe novos grupos de imigrantes que, juntos, organizaram-se e prosperaram em torno de valores como solidariedade, fé e trabalho.
A história da Ponte Abdon Batista é um marco desse espírito comunitário
A primeira estrutura sobre o Rio Itapocu foi construída em 1909: uma ponte de madeira baixa, com apenas um metro acima do leito do rio, que acabou destruída por uma enchente em 1911, deixando a população novamente dependente de balsas. A solução veio de forma inusitada: uma ponte metálica, originalmente destinada à África do Sul, foi descarregada por engano em Florianópolis.
O então deputado estadual Abdon Batista, atento à necessidade dos colonos jaraguaenses, aproveitou a oportunidade e destinou a estrutura à cidade. Assim, em março de 1913, foi inaugurada a nova ponte metálica, com cerca de 90 metros de extensão, piso de madeira e, posteriormente, cobertura de zinco.
A ponte foi fundamental para o escoamento da produção agrícola e o desenvolvimento urbano. Em 1965, com a expansão industrial, a estrutura metálica foi substituída por uma ponte de concreto, mantendo o nome em homenagem ao político que tanto contribuiu para a região. Hoje, o pilar de pedra da antiga ponte permanece solitário no leito do rio, tombado como patrimônio histórico e símbolo da história e da resiliência do município.
A emancipação política de Jaraguá do Sul também é marcada por mobilizações populares. Em 1934, após disputas administrativas, o município conquistou sua autonomia graças à articulação de lideranças locais e ao apoio da população. A instalação oficial foi prestigiada por autoridades e pela comunidade, que reconhecia naquele momento a força da união como motor do desenvolvimento.
Esse mesmo espírito se manifesta na Schützenfest, a Festa dos Atiradores, que chega à sua 35ª edição em 2025. Inspirada nas tradições germânicas trazidas pelos colonizadores, a festa celebra o tiro esportivo, a música, a dança, a gastronomia e o idioma alemão.
A ideia surgiu em 1988, no bairro Rio da Luz, e se concretizou em 1989, com a criação da ACSTVI (Associação dos Clubes e Sociedades de Tiro do Vale do Itapocu).
Desde então, a festa cresceu e se consolidou como um dos maiores eventos culturais de Santa Catarina, com torneios de tiro, apresentações folclóricas, bandas típicas, culinária tradicional e eventos paralelos como o Schützenbaum, Schützenbier e o Schützentag. A última edição, em 2024, foi um verdadeiro sucesso, com vários recordes quebrados: público superior a 150 mil pessoas, mais de 118 mil tiros disparados e 223 mil litros de chope consumidos.
Hoje, 17 sociedades de atiradores participam ativamente da festa e das celebrações ao longo do ano, promovendo a preservação e a vivência do patrimônio cultural. A Schützenfest é mais do que uma festa: é um símbolo da identidade jaraguaense, da força da coletividade e da alegria de celebrar as raízes com orgulho e união.
“Responsabilidade coletiva e voluntariado fazem a diferença. Em Jaraguá do Sul, felicidade é compartilhar.”
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