“Tarifaço do Trump!”
Hoje acordei antes do sol. Como sempre. Lá pelas 4 da manhã já estava com o motor ligado, preparando o bruto pra mais uma viagem. Saí de Alta Floresta, no coração do Mato Grosso, carregado de soja boa, daquelas que brilham na luz da lanterna. O destino? Porto de Miritituba, no Pará. De lá, os grãos seguem de balsa até o mundo afora. Ou, pelo menos, seguiam.
A estrada até ali é longa, de barro, de calor e de pensamentos. E foi justamente nela que comecei a matutar sobre essa tal notícia que escutei na rádio ontem à noite — o “tarifaço do Trump”, como andam chamando. O ex-presidente americano resolveu meter uma tarifa de 50% em tudo que sai do Brasil pros Estados Unidos. Dizem que é birra política, uma retaliação disfarçada de economia. Mas quem sente mesmo, somos nós aqui no chão.
Pode parecer distante, coisa de palácio, de diplomacia, mas quando se vive no trecho, tudo chega: da alta do diesel à queda da carga. Esse tarifaço aí já começa a mexer com os contratos de exportação. E se tem menos exportação, tem menos carga. Menos carga, menos frete. E menos frete, Ge, é comida a menos na mesa do caminhoneiro
Eu que carrego soja, milho, algodão, às vezes celulose, vejo no retrovisor o medo de muitos produtores. Eles falam que a venda pros Estados Unidos vai esfriar. O café também sentiu o baque. A arroba da carne? Incerta. Até o suco de laranja entrou na roda da disputa.
E o pior é que o campo já vinha sofrendo com o clima maluco, com as estradas detonadas e agora leva mais essa pancada. Mas como diz o ditado aqui no trecho: “pau que bate em Chico, respinga em Francisco”. Se o produtor lá perde, o motorista aqui amarga junto. Fica mais difícil fechar viagem, carregar de volta, manter o caminhão rodando sem tomar prejuízo.
A política internacional às vezes parece um jogo jogado lá em cima, com peças grandes demais. Mas a poeira que ela levanta, é a gente que respira aqui embaixo. Trump quis pressionar o Brasil, mas quem sente primeiro é o caminhoneiro que madruga no mato, é o agricultor que espera pagamento no final da safra, é o mecânico da beira da estrada que vê o movimento cair.
Eu acho que o Brasil precisa parar de depender tanto dos americanos. A China, o Japão, a Índia… esses países ainda compram pesado da gente. Se os EUA querem fechar a porta, que a gente abra janelas novas. O grão brasileiro tem qualidade. O problema nunca foi o produto, é o jogo sujo do poder.
Na estrada, a gente aprende a lidar com o imprevisível: chuva forte, ponte quebrada, fiscalização injusta. Mas nada disso assusta tanto quanto um país gigante sendo tratado como refém por outro. Só que nós, do asfalto, não paramos. A esperança sempre segue na cabine, junto com o rádio ligado e a fé no próximo destino.
E se por acaso o frete pra fora minguar, que os olhos se voltem mais pra dentro. Nosso povo precisa comer. O que não pode é o Brasil, um celeiro mundial, andar com o tanque vazio por causa da vaidade de quem nunca subiu numa carroceria.
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